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Incra vai cobrar produção nos assentamentos do Rio Grande do Sul

José Mauro Batista

Tarso Teixeira, de São Gabriel (à esq.), ao lado de Nabhan Garcia, do Ministério da Agricultura

O Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) no Rio Grande do Sul pretende fazer uma ampla vistoria nos assentamentos rurais existentes no Estado para verificar se os assentados estão produzindo. O objetivo é que assentados em situação irregular e que não estejam produzindo sejam identificados e os lotes retomados para entrega a pessoas que estejam na fila para receber terra. O mapeamento de assentamentos e de áreas indígenas e quilombolas é um dos desafios do veterinário e produtor rural de São Gabriel Tarso Francisco Pires Teixeira, 67 anos, novo superintendente do Incra no Estado.

Presidente do Sindicato Rural de São Gabriel há 15 anos e vice-presidente da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul), há 13, Tarso Teixeira é uma das principais lideranças do agronegócio no Estado. Nascido em São Sepé e radicado na Terra dos Marechais, Tarso também tem ligação com o Coração do Rio Grande, onde estudou no Colégio Marista Santa Maria de 1966 a 1969. Sem filiação partidária, Tarso teve sua indicação respaldada por entidades rurais, entre elas a própria Farsul, por sua ligação com o setor.

A confirmação de que ele será o novo superintendente do Incra foi feita pelo secretário especial de Assuntos Fundiários do Ministério da Agricultura, Luiz Antônio Nabhan Garcia. Tarso só aguarda a nomeação no Diário Oficial para assumir sua nova função no escritório regional do instituto, em Porto Alegre. O produtor renunciou à presidência do Sindicato Rural, mas vai permanecer na vice-presidência da Farsul, onde coordena a Regional 2.

Em sua trajetória profissional, Tarso desempenhou funções como técnico da Secretaria Estadual de Agricultura, diretor industrial e comercial da antiga Cooperativa Rural Gabrielense (Corugal) e diretor geral da Cooperativa de Carnes Rio Vacacaí (Cooriva).

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FAZENDA SOUTHAL

Entre as áreas que serão vistoriadas está o Assentamento Conquista de Caiboaté, na localidade de Batovi, no interior de São Gabriel. A propriedade de cerca de 5 mil hectares deu origem a um assentamento após a desapropriação de parte da Fazenda Southal em 2008 e foi palco de conflitos em 2008, quando o governo federal loteou a área para a instalação de integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST).

Tarso, que, na época, esteve do lado dos produtores rurais contra invasões (a Southal chegou a ser invadida para pressionar o governo) de terra, não esconde suas divergências com o MST e a política de reforma agrária adotada em governos anteriores. Ele diz saber da existência de denúncias de que, inclusive na área da Southal, há lotes arrendados a terceiros por assentados que deveriam estar produzindo. Apesar de integrante da classe ruralista, Tarso afirma que sua intenção é levar a paz ao campo e fazer com que os assentamentos cumpram sua função social.

NOVO TITULAR

  • Nome - Tarso Francisco Pires Teixeira
  • Idade - 67 anos
  • Profissão - Veterinário e produtor rural
  • Atuação sindical - Presidente do Sindicato Rural de São Gabriel e vice-presidente da Farsul
  • Filiação partidária - Não tem vínculo com nenhuma sigla

Diário - Quais serão seus principais desafios no Incra?

Tarso Teixeira - Entre as funções do Incra estão as terras indígenas, as áreas de quilombolas e os assentamentos rurais. Também somos responsáveis pelas reservas legais, APPs (Áreas de Preservação Permanente) e, por fim, todo o ordenamento fundiário, incluindo conflitos de terra. 

Diário - O governo federal vem batendo na tecla de que é preciso fazer uma vistoria dos assentamentos. São Gabriel é um dos municípios onde há assentados. Qual a situação do Rio Grande do Sul? 

Tarso Teixeira - Em São Gabriel, são cinco assentamentos, somando mais de 20 mil hectares. O primeiro é o Guajuviras, na divisa com Cacequi, que é um assentamento do final da década de 80. Em Batovi, na divisa com Dom Pedrito e Lavras do Sul, há um assentamento de 5 mil hectares em área da antiga Fazenda Southal. Em todo o Estado, há 400 mil hectares com assentamentos, o tamanho de São Gabriel. Também tem a Fazenda Annoni, que é o mais antigo (conflito agrário). Vamos fazer uma averiguação total.

Diário - Há alguma denúncia envolvendo o assentamento da Southal? 

Tarso Teixeira - Temos denúncias de algumas situações em São Gabriel, como conflitos. São várias denúncias de que uns querem produzir e outros não deixam e de que há muitos lotes arrendados. Vamos fazer uma averiguação.

Diário - O que pode acontecer? 

Tarso Teixeira - A pessoa (que recebeu o lote) tem que estar produzindo, cumprindo a função social. O próprio Incra pode realocar, colocar outras pessoas que queiram produzir. Mas não quero nada de conflito, quero levar a paz ao campo. Vamos fazer cumprir a função social, sem viés ideológico.

Diário - E as terras indígenas e quilombolas? 

Tarso Teixeira - Também vamos fazer uma averiguação. Muitos laudos antropológicos foram fraudados. Não se pode querer demarcar reserva indígena onde tem produtores rurais há mais de século. Também temos uma informação de conflito em uma área quilombola em Restinga Sêca e vamos averiguar.

Diário - Como a sua indicação foi recebida? 

Tarso Teixeira - Com muito orgulho. Fui indicado pela minha formação técnica. Sou veterinário há mais de 45 anos, produtor rural e um estudioso do assunto. Nunca tive filiação partidária, mas fui dirigente de cooperativas e liderança associativista. Sou defensor do estado democrático de direito, do agronegócio e do direito à propriedade. E sou um apaixonado pelo campo.

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